CRÍTICA | Hereditário

Sinopse: Quando a matriarca da família morre, a família de sua filha descobre segredos cada vez mais aterrorizantes. Quanto mais se aprofundam nesses segredos, mais percebem o quanto precisam fugir daquilo que parecem ter herdado. O diretor Ari Aster em seu primeiro filme libera uma visão de pesadelo que ocorre em um colapso doméstico, transformando uma tragédia familiar em algo sinistro e inquietante.

Quando perguntado sobre o filme, o diretor Ari Aster o definiu como um drama familiar. Certamente ele tem muito mais elementos, não vejo dramas familiares envoltos de cenas um tanto aterrorizantes e sobrenaturais. Apesar de tais cenas, o constante desconforto do filme é que o faz um dos melhores do gênero nos últimos tempos e isso se deve as formas que ele te causa este incomodo.


O filme começa com o velório da matriarca e a distância entre mãe e filha (Annie Graham, interpretada pela Toni Collette) já é bastante clara logo de início. A partir deste momento, quem passa a se distanciar de sua família é a Annie, como se incorporasse sua mãe.

A sensação de que Hereditário não é uma trama de terror comum, surge de imediato. Nós temos essa família que parece qualquer família, ao mesmo tempo que não se parece com nenhuma, já que tem essa aura de estranheza desde o primeiro minuto. 


No inicio o filme parece lento, e nem sempre o filme ser lento é negativo. Nesse caso este ritmo quase que agonizante é um paralelo com a família após a morte da matriarca. Este acontecimento leva a  família a perder o centro e com isso mergulha em seus piores demônios.

Um dos pontos mais importantes do filme é a sensação de profunda desesperança, não importa as escolhas, elas sempre começam com sentimentos de total impotência.
Em uma das aulas, o filho mais velho, Peter, está em uma aula sobre tragédias gregas e então surge o questionamento que é a chave dos acontecimentos do filme:

É mais trágico quando uma pessoa causa sua própria desgraça ou quando a sua desgraça já está definida sem que a pessoa tenha qualquer controle sobre isso. 


Essa fala vem após a história da mitologia grega de Ifigênia ter sido citada, esta que após erros do pai, é oferecia em sacrifício para os deuses devolverem os bons ventos para seus homens. O pai se arrepende mas o destino da jovem está traçado e nada pode ser feito. O final dessa história varia mas ela acaba recompensada, acho que não conseguiram lidar com a sensação de injustiça ao definirem essa história. É possível relacionar as duas histórias mas não direi mais que isso para não gerar spoilers.


Quando o autor fala que o filme é um drama familiar, penso que o Hereditário do título, é a violência passada de mãe pra filha. Ela cai nas mesmas atitudes da mãe como se fosse inevitável e nem toda a mágoa que sente, a impede de reproduzir estas atitudes. No fim, esta é mais uma forma de falta de controle da própria vida. A morte da mãe se torna um alivio, que desencadeia culpa ,que leva a violência contra os próprios filhos. Este ciclo de violência é que faz o filme ter muito sucesso no desconforto que ele causa. 

Ainda temos o pai da família, interpretado pelo Gabriel Byrne, que é uma figura tão deslocada, que em muitos momentos não é possível entender o motivo dele estar participando dessa dança macabra familiar mesmo sendo parte da família. E ele não está. E os filhos, as grandes vítimas desse caos familiar, são jogados em uma situação que não os pertence e que resulta em mais impotência e mais violência e temos aí mais desconforto, a essa altura o filme é quase que fisicamente exaustivo. 


A matriarca que não respira desde o inicio do filme, tem uma mão pesada em cima de todos de uma forma ou outra, e a desesperança aliada a herança familiar demonstra que o conformismo é o único caminho. Os personagens estão geralmente ou entre um total embotamento ou no limite da histeria.

Fora isso, só preciso acrescentar que a Toni Collette está maravilhosa como sempre, o filme tem uma fotografia bem interessante, eu considero que um filme de terror bem feito, consegue criar um ambiente que te sufoca para dentro dele, nesse caso eu diria que quase literalmente e o roteiro é muito inteligente fazendo este pingue-pongue entre realismo cru e sobrenatural.
Talvez tenha a necessidade de ver o filme mais uma vez, isso se ele não for sufocante demais para ser possível repeti-lo.

Se gostou, confira o trailer abaixo.


12 comentários:

  1. Oi tudo bem? Ainda não assisti esse filme mas está na minha lista, pois adoro filmes de terror "inteligente"
    esse me chamou a atenção por ser um drama familiar e ao mesmo tempo temos descobertas a serem feitas, parabéns pelo post foi bem objetivo e claro, bjs!

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  2. Olá!
    Nem sabia do lançamento desse filme, esse ano estou realmente aquém do que se passa nas telinhas. Gostei da indicação, achei a premissa do filme interessante e, mesmo sendo qualificado como terror psicológico, eu acho que vou gostar desse filme. Só espero não achar cansativo em nenhum ponto.
    Bjs
    Lucy - Por essas páginas

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  3. Eu não tenho nem coragem de assistir o trailer!kkkkkk... Fujo de filmes assim. Fiquei assustada só com sua resenha imagine se assistisse!

    Não gosto de histórias de terror, principalmente em filmes. Eu tenho pesadelos depois e fico atormentada com os acontecimentos. E esse filme em particular, com toda essa bizarrice familiar, parece exatamente o tipo de história que me provocaria angústia e pânico. Sem chance de eu ver!

    Bjs!

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  4. Olá, ainda não tinha ouvido falar desse filme, gostei de conferir suas considerações sobre ele. Deve ser bem tenso ver essa família repetindo os mesmos erros após a morte da matriarca, realmente angustiante.

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  5. Oi! A construção da narrativa desse filme foi muito boa né? Não tinha lido nada sobre ele ainda, mas seus comentários sobre ele me deixaram curiosa (ainda que eu não goste muito de dramas familiares e filmes de terror haha). A questão que a trama põe é muito interessante também, deixa a gente pensando em quanto a gente consegue ou não fugir do destino.
    Beijos!

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  6. Olá,

    Amo filmes de terror e acho que não posso perder a oportunidade de ver esse. Achei interessante a sensação que o filme passa ao espectador, como a de desesperança. Imagino que seja um pouco tenso acompanhar o desenrolar da trama, mas mal vejo a hora de assistir. Dica anotada!

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  7. Eu fujo um pouquinho desse tipo de filme porque sou medrosa pra caramba, mas achei sua crítica muito pertinente. Também acho que o fato de ser lento nao necessariamente quer dizer que seja negativo.

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  8. Olá!
    Não conhecia esse lançamento e adorei a forma como é desenvolvido. O trailler é eletrizante, os personagens parecem bons na atuação.
    Vou procurar pra assistir no feriadão.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  9. Filminho interessante, gosto de ver filmes assim. Vou anotar a dica para assistir assim que possível. Terror, drama e elementos sobrenaturais são ótimos quando reunidos em um filme!

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  10. Wow!
    drama familiar mistura com terror me lembra muito a última série que assisti e que está na boca do povo, "A maldição da residência Hill" já ouviu falar? Se não assista, é maravilhosa. Quanto a hereditário, tratei de anotar aqui porque vou demorar um pouquinho até ter coragem de assistir algo com essa pegada de novo rs.

    Abraços!
    Nosso Mundo Literário

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  11. Eu não curto muito terror, mas com esse enredo inteligente, sou capaz de dar uma chance e me surpreender. Adorei conferir a sua opinião.
    beijos

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  12. Oi, tudo bem?
    Eu não conhecia esse filme ainda e confesso que dificilmente vejo filmes nesse estilo, sabe? Mas fiquei curiosa com a trama, a mesma parece ser eletrizante e pelos seus comentários é o tipo de história que prenderia minha atenção, por essa razão vou marcar a dica, talvez eu goste também.

    Beijos :*

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