RESENHA | Rimbaud – Jean-Baptiste Baronian





Sinopse: Quando Arthur Rimbaud escreveu à sua irmã Isabelle “A vida é uma miséria sem fim. Por que existimos?”, ele tinha 37 anos e apenas mais alguns meses de vida. Mas que importância tem isso para alguém que viveu muitas vidas em uma só: uma vida de aluno precoce, de adolescente rebelde, uma vida efêmera de poeta genial, de amante de Paul Verlaine, uma vida de grande viajante, de negociante na Abissínia, uma vida de estropiado, de aleijado, errando pelos desertos da África Oriental, uma vida de tragédia grega, de verbo e de silêncio? Vida e obra se confundem para formar a incrível saga de Arthur Rimbaud na terra. Esta, que é uma das maiores aventuras poéticas de todos os tempos, é reconstituída nesta brilhante biografia.



Editora: L&PM | Páginas: 221 | Ano: 2011 | Preço: R$ 14,87


“On n’est pas sérieux quand on a dix-sept ans.”


Ninguém é sério aos dezessete anos. Essa frase, que dá início ao poema “Romance”, define com perfeição a personalidade do jovem e boêmio Arthur Rimbaud. Era natural que estivesse em constante mudança, que não gostasse de monotonia, que buscasse novas coisas para aprender e lugares para conhecer.

Rimbaud é certamente um dos maiores poetas franceses que já existiu. Por esse motivo, é surpreendente que seja possível encontrar sua vida toda descrita no curto espaço de 221 páginas. Mas Jean-Baptiste Baronian fez um grande trabalho nesta biografia, sendo capaz de narrar toda a trajetória do rapaz e incluir em sua narrativa diversos poemas escritos por Rimbaud, além de cartas que marcaram importantes momentos de sua vida.

Quando falamos sobre poesia estrangeira, há muito o que considerar, mas o principal aspecto de preocupação para muitos é certamente a tradução. Se a tradução já é um elemento de grande importância no texto em prosa, na poesia é ainda mais. Isso acontece porque a tradução precisa conciliar no texto poético tanto os significados empregados pelo autor quanto o ritmo utilizado no poema.


          O trabalho da tradutora foi muito eficiente nesse aspecto, pois a edição conta com os poemas originais em francês e uma tradução que respeita a métrica e o estilo de Rimbaud. Além disso, a obra também nos apresenta várias notas de rodapé que nos explicam muito sobre elementos citados e sobre o contexto do século XIX vivenciado pelo poeta.

Todos esses artifícios foram usados para narrar com detalhes a vida de Rimbaud, um garoto que nasceu no interior da França e que, desde criança, já demonstrou grande talento na poesia. Rimbaud foi um poeta simbolista e em sua obra encontramos muitos poemas que carregam as características desse movimento, tais como elementos metafísicos, místicos, misteriosos e românticos.

Além disso, durante a adolescência também escreveu alguns poemas inspirados pela Comuna de Paris, a primeira tentativa de implantação de um governo socialista. Durante esse período, contou com a ajuda de um professor e amigo que o orientou a conhecer profundamente os trabalhos dos grandes poetas da época. 


Foi desta forma que conheceu a obra de Paul Verlaine, com a qual se encantou logo de início. Em uma oportunidade que tiveram para se encontrar em Paris, Rimbaud e Verlaine perceberam então que tinham muito em comum: o estilo poético, as opiniões políticas e, principalmente, uma profunda admiração um pelo outro.

Os dois passaram a manter um relacionamento amoroso, apesar de Verlaine já ser casado. Porém logo as dificuldades financeiras, as discussões e os boatos fizeram com que o relacionamento dos dois desmoronasse, sendo definitivamente rompido com um acesso de fúria de Verlaine, que disparou dois tiros contra Rimbaud antes de ser levado à prisão.

A partir de então, a vida de Rimbaud se tornou uma grande busca pela própria identidade. Em um curto espaço de tempo, seu amor pela poesia foi substituído por novos interesses, como as viagens, o mundo dos negócios e o encanto das fotografias. Diversos foram os sofrimentos pelos quais passou durante a vida adulta, mas sempre esteve disposto a lidar com eles para descobrir algo novo.


O que impressiona na vida de Rimbaud é o fato dela ter sido tão curta e tão produtiva. O poeta não apenas falava francês, mas também inglês, alemão, árabe, russo e italiano. Viveu na França, na Inglaterra, na Alemanha, na Itália, isso sem falar do período em que trabalhou para um circo viajante. Também tocava piano e seu conhecimento pelo território da África Oriental se tornou tão profundo que ele foi capaz de publicar diversos textos científicos sobre regiões que nunca haviam sido exploradas por povos que não fossem as tribos nativas.

Ao realizar a leitura desse livro, me emocionei muito em certos momentos, principalmente ao ler sobre a vida adulta do poeta. Suas transformações são constantes e, talvez devido ao próprio estilo melancólico de se expressar, as cartas que troca com a mãe, a irmã e Verlaine são muito intensas e dramáticas. Como leitor, é possível que sejamos capazes de sentir todas as angústias pelas quais ele passa em períodos de dificuldade.

O livro se apresenta em uma edição pocket, que apesar de simples, é muito prática. Mesmo que apresente um formato pequeno, a fonte é de tamanho agradável para a leitura. Achei a versão bem completa, pois ao fim da obra ainda encontramos anexos com uma cronologia da vida de Rimbaud além de muitas referências de outras obras sobre o poeta.

10 comentários:

  1. Poemas nunca forma meu negócio, mas te confesso que saber que os originais foram mantidos na tradução fiquei com meu coração aquecido.
    A foto do poema que tu postou me lembrou Camões, como pode. Certamente um livro lindo, emocionar-se lendo sobre o poeta em si é outro nível!

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  2. Olá!
    Fiquei com a impressão de ser uma leitura crua e ao mesmo tempo envolvente, com um carater mais autobiografico em meio as poesias.
    Não sei se seria o tipo de leitura que me atrairia no momento, mas gostei de conferir suas impressões sobre essa obra.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  3. Achei esse livro tão chique, esses poemas devem ser uma elegância só. Gostei da dica e quem sabe futuramente farei sua leitura.

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  4. Oi, Jessica.
    Confesso que eu tenho um pequeno problema com biografias... É uma espécie de aflição... Fico me sentindo meio invasora da vida dos outros, mesmo que seja uma biografia autorizada e tudo o mais!
    A edição parece linda e quem gosta do gênero deve mesmo se encantar, mas não é para mim!
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  5. Oi!
    Ainda não conhecia esse livro, mas já fiquei interessada em fazer a leitura. Fiquei muito contente por saber que você tenha aproveitado a leitura e que o recomende. Acho que algumas pessoas já viveram pouco e fizeram muita coisa e acho isso preferível a viver muito e não fazer nada.
    Vou anotar a dica do livro, sem dúvidas.
    Beijos

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  6. Olá, como vai?
    Eu adoro poemas, estou sempre lendo algum livro ou poemas soltos mesmo. Eu ainda não conhecia o poeta e fiquei me perguntando em que mundo eu vivia para desconhecê-lo. Agora quero procurar obras dele para ler. Esse livro me agradou, é uma ótima dica e espero que eu tenha a oportunidade de lê-lo em breve.

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  7. Olá Jéssica. Esse é um tipo de leitura que eu não gosto de fazer. Não sou de ler poemas e nem biografias. Mas achei interessante de ter tido uma tradução boa. Porque acho que é uma coisa bem complicada essa parte da tradução para um poema.

    Mesmo não gosta do gênero, eu gostei muito da sua resenha. Beijos

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  8. Olá, tudo bom?
    Não conhecia esse poeta e também não sou muito de ler poesias, no entanto, amo uma biografia e conhecer a experiência de vida dos autores, a forma como cada experiência pessoal influencia na sua arte. Saber um pouco desse autor que teve uma vida curta com tantas experiências vai ser uma leitura muito interessante. Dica anotada!
    Beijos!

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  9. Eu ainda não tinha ouvido falar do poeta francês, mas acho que depois da sua resenha, nunca mais esquecerei... rs Gosto de biografias e sempre procuro ler as que são voltadas para literatura e já coloquei essa aqui na lista.
    Valeu demais pela dica
    Beijos

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  10. Eu nunca li nada de Rimbaud mas morro de curiosidade porque Bukowski quase sempre o mencionava em suas poesias, não conhecia essa obra mas me parece um bom começo pra quem tem interessei, já anotei a dica!

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