Sinopse: Em
um Brasil retrofuturista onde serviçais robóticos e geringonças apocalípticas
coexistem com o sobrenatural, o jornalista Isaías Caminha desembarca em Porto
Alegre para cobrir a prisão do infame assassino Dr. Antoine Louison,
aprisionado no lendário asilo São Pedro para Psicóticos e Histéricas. Na noite
anterior à sua execução, porém, o facínora escapa, desaparecendo como um
fantasma de folhetim. À medida que Isaías embrenha-se no mistério do
desaparecimento de Louison, passa a questionar seus próprios valores, forja
amizades improváveis e junta-se ao Parthenon Místico – sociedade secreta que
reúne o imortal satanista Solfieri de Azevedo, o cientista louco Dr. Benignus,
a médium indígena Vitória Acauã e os aventureiros do oculto Sergio Pompeu e
Bento Alves.
Editora: LeYa
| Páginas: 303 | Ano: 2014 | Preço: R$ 26,50
“Sobreviverás
ao abismo da tua própria loucura?”
Logo
de início, devo dizer que este livro me surpreendeu muito e acredito que
durante os próximos meses estarei sempre o indicando em qualquer ocasião em que
eu veja uma oportunidade. “A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison” é o
primeiro livro da série “Brasiliana Steampunk”, e o único publicado até o
momento.
Sempre
gostei do subgênero steampunk (retrofuturismo), por isso quando descobri a existência
de um livro que faz uso desse cenário escrito por um autor nacional, tive a
certeza de que eu deveria lê-lo. Enéias Tavares foi grandioso em conseguir
trazer todos os aparatos tecnológicos como robôs à vapor e zepelins para as
terras brasileiras, mas isso foi apenas o começo.
A
história do livro se passa em 1911, quando um jovem jornalista chamado Isaías
Caminha chega à Porto Alegre. Sua tarefa é escrever uma reportagem sobre o
assassino Antoine Louison, acusado de matar cruelmente oito renomados
aristocratas da cidade. Já sentenciado à morte, Louison aguarda a execução de
sua pena no asilo São Pedro para Psicóticos e Histéricas.
Antes
de escrever a reportagem, Isaías busca conhecer mais sobre o acusado, o que faz
com que se surpreenda com a personalidade do doutor. Louison é um homem
extremamente elegante, culto e engajado em projetos sociais. Sua inteligência e
sensibilidade impressionam o jornalista de tal forma que ele passa a se questionar
se aquele homem seria realmente um assassino.
Louison
jamais negara os crimes dos quais fora acusado. Pelo contrário, diversas provas
depunham contra ele, inclusive os vários desenhos que o próprio havia feito
expondo os órgãos de suas vítimas em uma galeria de arte. Porém, enquanto
Isaías se depara com tantas dúvidas, acaba conhecendo um estranho grupo de
pessoas que se autodenomina Parthenon Místico.
O
Parthenon é uma sociedade secreta composta pela médium Vitória Acauã, o imortal Solfieri de Azevedo, o excêntrico cientista Dr. Benignus e os aventureiros
Sergio Pompeu e Bento Alves. No momento, todos eles têm um único objetivo:
libertar Louison. E quando o prisioneiro desaparece do hospício, resta uma
dúvida a Isaías e a nós: quem está certo nesta história?
Assim
como Isaías, me vi diante de alguns conflitos morais durante a leitura, e não
poderei explicá-los sem dar spoilers, mas tudo o que posso dizer é que esse
livro nos mostra uma escolha perigosa entre o que é certo e o que é justo. A
obra gera perguntas ao leitor: ele realmente matou as pessoas? Por que ele
faria isso? Por serem vítimas aristocratas, estaria ele em favor dos pobres?
Essas
dúvidas permeiam a narrativa e o final é surpreendente. Com o avançar do livro,
o autor vai nos dando algumas pistas sobre os mistérios que envolvem o doutor.
O livro todo é narrado por meio de cartas e gravações que os personagens enviam
uns aos outros, o que faz com que sejamos capazes de perceber suas diversas
personalidades e o que cada um sabe sobre Louison.
Por
se tratar de uma história que se passa em 1911, Tavares fez questão de utilizar
em seu texto a mesma grafia de palavras usada na época, o que certamente deu um
encanto a mais à narrativa. Por exemplo, você não vai encontrar uma menção à
fotografia neste livro, mas certamente vai encontrar um “registro
photoeléctrico”.
Por
fim, não poderia deixar de mencionar os personagens do livro. Isaías Caminha,
Solfieri, Vitória Acauã, Simão Bacamarte... Você reconhece esses nomes? A obra
de Tavares é criada em torno de personagens clássicos da literatura nacional
que agora fazem parte do domínio público, criações de Álvares de Azevedo,
Machado de Assis, Lima Barreto e outros grandes autores.
Admito
que boa parte dos livros em que estes personagens aparecem originalmente ainda
não li, mas um dos objetivos do autor também era causar a curiosidade para que
mais pessoas lessem esses clássicos e conhecessem os personagens que inspiraram
seu livro. E comigo isso deu certo, pois já quero procurá-los para próximas
leituras.