OSCAR 2019 | O reinado do rock britânico em “Bohemian Rhapsody”

Nossa proposta para o blog nas próximas semanas é a de produzir textos sobre os principais indicados ao Oscar 2019. Sendo assim, hoje escolhi dar continuidade a esse projeto com uma análise do filme Bohemian Rhapsody. O longa-metragem concorre à estatueta em cinco categorias: filme, ator, mixagem de som, edição e edição de som.

Bohemian Rhapsody é uma biografia que conta a história do cantor Freddie Mercury e sua trajetória com uma das bandas de rock de maior sucesso no mundo, o Queen. O filme nos apresenta o histórico de como os integrantes se conheceram até se tornarem famosos, mas podemos observar que o foco da produção acompanha os conflitos que  também surgem na vida pessoal de Mercury.

      Posso dizer que gostei muito do filme, apesar de saber que o roteiro fez uso de algumas licenças poéticas que fizeram com que ele fosse um pouco criticado pelos fãs mais exigentes da banda (se quiser ver o que foi mudado da história original do Queen, clique aqui). Bohemian Rhapsody é um filme que traz consigo algumas polêmicas até os dias de hoje, mas nada disso tira o seu mérito nesta premiação e vou explicar as razões disso.

No meu ponto de vista, o filme merece o destaque por três motivos principais: a incrível atuação de Rami Malek como protagonista, a ousadia de trazer para a tela a biografia de um ídolo LGBT grandioso como foi Freddie Mercury e a capacidade de utilizar tantas músicas icônicas da banda como elemento de dinâmica ao invés de fazer com que o uso excessivo delas tornasse o enredo monótono. As músicas são o próprio coração desse filme!

E para aqueles que acreditam que a razão é mais importante que a emoção em uma cinebiografia, e que por isso um roteiro fiel era indispensável, nesta análise mostrarei que, no caso desse filme, a ideia pode ser diferente. Bohemian Rhapsody é um filme que destaca a emoção, afinal o próprio Queen abraçou símbolos que buscavam transmitir emoções também.

        Por se tratar de uma biografia, acredito que as coisas que mencionarei nesta análise não serão spoilers, pois muitas delas já são do conhecimento dos fãs da banda. De qualquer forma, evitarei mencionar os fatos de maior impacto na vida pessoal de Freddie Mercury, pois grande parte do enredo se concentra neles.

No filme, o concerto Live Aid no Wembley Stadium, em Londres, é a primeira e a última coisa a se apresentar na tela, o que nos faz perceber que ele foi um evento importante na carreira do Queen. Porém, antes de mencionar essa ocasião memorável e comentar a sua importância, vamos falar um pouco sobre o rock.

Não há muitas contradições quando falamos que esse estilo musical nasceu nos Estados Unidos, tendo como pioneiros nomes como Bo Diddley, Chuck Berry e outros (veja uma lista aqui). Não podemos esquecer Little Richard nesse contexto, principalmente por ele ser mencionado no filme como um dos artistas mais admirados por Mercury.

         Entretanto, nenhum desses nomes se tornou o rei do rock. Este título foi atribuído a Elvis Presley, que além de talentoso era considerado muito bonito na época, o que fez com que o rock pudesse ser personificado em sua imagem. A influência de Elvis era tão grande que ultrapassava o mundo da música, chegando a inovar conceitos da moda entre os americanos na década de 1950.

Dessa forma, os Estados Unidos dominaram o cenário do rock mundial. Porém, na década de 1960, algumas bandas britânicas começaram a ganhar notoriedade, algo que foi noticiado pela mídia americana como “Invasão Britânica”. Entre essas bandas podemos destacar The Who, The Rolling Stones, entre outras. Porém, aquela que atingiu o topo da fama nessa década foram os Beatles.

O quarteto de Liverpool ganhou destaque que dificilmente outra banda conseguirá alcançar um dia, no entanto a separação do grupo em 1970 fez com que seus membros seguissem por caminhos diferentes no mundo da música. Seria este o momento do Reino Unido desistir de uma vez do rock? Certamente não, pois no mesmo ano em que os britânicos ficavam sem os Beatles nascia uma banda chamada Queen.

Bohemian Rhapsody nos mostra que o nome inicial da banda era The Smile, e isso é algo importante a ser lembrado. As décadas de 1970 e 1980 foram um período de efervescência para o rock britânico. Os integrantes do The Smile pensavam grande desde o início e esperavam estar lado a lado com os artistas de destaque da época, tais como David Bowie, Elton John, Mick Jagger, e outros que também são mencionados no filme. Ou seja, precisavam de um nome de maior impacto.

       Um nome que carregasse consigo a força da emoção que desejavam expressar, pois “O Sorriso” já passava essa emoção, mas precisava ser potencializada. Era o momento de fazer com que os outros vissem que o Reino Unido também poderia reinar no mundo do rock, mesmo sem a presença de um rei do rock. Então, a partir de agora, a Inglaterra deveria ter a sua “Rainha”.

A escolha do nome “Queen” para a banda pode ser bastante adequada ao trio de rapazes ingleses que formavam o grupo. Mas por que seria para alguém que nasceu em Zanzibar, como Freddie Mercury? Talvez porque o vocalista tinha maior afeição pela terra da rainha do que por sua terra natal, como também vemos no filme.

Ao escolher o “Sorriso” e a “Rainha” como seus símbolos, acredito que o Queen sempre foi uma banda movida por emoções. Aliás, isso também fica claro no filme quando os integrantes da banda compõem “Bohemian Rhapsody” a partir daquilo que lhes provocava emoções, criando uma música excêntrica que lhe soava atraente, mesmo que a composição fugisse dos padrões comerciais.

Sem ligar para qualquer razão ou padrão, a banda construiu sua carreira movida por sentimentos e assim estabeleceu seu reinado do rock, que fica visível no filme com o concerto Live Aid, no Wembley Stadium. O show não era apenas um evento importante na carreira do Queen, mas também um encontro dos maiores músicos britânicos da década. Em uma união com os americanos do John F. Kennedy Stadium, Queen e os astros do rock mostraram ao mundo que o reino é grande o bastante para todos e que não existem fronteiras para a música.

         Quer se emocionar também? Confira o trailer e não deixe de ver o filme!