OSCAR 2019 | A imprensa partidária em “Vice”

Hoje daremos início à nossa série de postagens sobre os indicados ao Oscar 2019 e escolhi começar esse projeto com a análise de um dos temas apresentados no filme Vice (2018), dirigido por Adam McKay e protagonizado por Christian Bale. A produção concorre ao Oscar em oito categorias: filme, ator, diretor, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, roteiro original, edição e maquiagem e penteado.

O filme é uma biografia e conta a história de Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo de George W. Bush. De início, podemos nos perguntar qual a importância de um vice-presidente. No entanto, a partir do filme logo percebemos que Dick Cheney foi um personagem fundamental para muitas das políticas adotadas durante o governo Bush, inclusive sendo o responsável pela criação de muitas delas.

Não estava com grandes expectativas ao me propor a ver o filme, mas acabei me surpreendendo muito positivamente com a produção. Vice tem um roteiro incrível, uma edição criativa que mistura imagens atuais com arquivos documentais, um senso de humor ácido e a atuação brilhante de Christian Bale, que está irreconhecível no papel de Cheney.

Entretanto, o que mais gostei no filme foi a forma como senti que podemos aprender com ele. Alguns conceitos de política internacional, que não são tão claros para a maioria das pessoas, ficam bem compreensíveis no filme. Passamos a entender o que representa a Al-Qaeda, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) e o que levou o governo Bush a atacar o Afeganistão e o Iraque durante seu mandato.

Um conceito que também me chamou bastante a atenção foi a “Teoria do Executivo Unitário”, bastante mencionada no filme. De início, planejei escrever um texto sobre isso, mas como não tenho proximidade com a área do Direito, senti que não conseguiria falar do tema com a mesma propriedade. Portanto, decidi que falaria sobre outro tópico que me trouxe muitas reflexões, apesar de ser abordado de forma secundária no filme: a imprensa partidária americana.

Considerando que este filme é uma biografia, acredito que as coisas que irei mencionar nesta análise não são spoilers, pois são conhecimentos históricos. Os verdadeiros spoilers sobre o filme não aparecerão no texto. E para introduzir o tema, precisamos compreender que nos Estados Unidos, assim como no Brasil, existem sistemas políticos liberais e conservadores.

O partido político conservador americano é chamado de Republicano, enquanto que o partido político liberal é o Democrata. Esses fortes adversários fazem uso de muitas estratégias para ganhar a confiança de seus eleitores, mas nem sempre elas estão de acordo com a ética. É isso que percebemos no filme quando nos deparamos com o surgimento do canal de notícias Fox News.

George W. Bush e Dick Cheney eram membros do partido Republicano, que contava com vários aliados, inclusive com a recém-criada Fox News. Os fundadores do canal eram ninguém menos do que o empresário Rupert Murdoch e Roger Ailes, um antigo consultor de mídia do partido Republicano. Ou seja, a Fox News sempre teve um viés conservador. Entretanto, será que isso era do conhecimento da grande população?

        Esta pergunta é extremamente importante, pois como o próprio filme cita, nos Estados Unidos da década de 1940, a Doutrina da Justiça entrou em vigor e permaneceu em uso até a década de 1980, quando Dick Cheney favoreceu para que esta fosse vetada. A doutrina era uma lei que obrigava os meios de comunicação a transmitirem igualmente os dois lados de uma questão.

A Doutrina da Justiça foi uma das manifestações da busca jornalística pela imparcialidade. Atualmente, sabemos que produzir conteúdo jornalístico de forma imparcial é impossível, pois cada escolha de palavra pode significar um posicionamento, mas isso não significa que jornalistas sérios deixaram de tentar ser o mais objetivos possível.

Isso significa que o jornalismo partidário não deve ser levado a sério? Na verdade, o jornalismo partidário tem tanto valor quanto o jornalismo que busca ser neutro. Alguns chegam a acreditar que ele possa ter ainda mais valor. A grande preocupação ética está no fato de que o jornalismo partidário precisa afirmar o seu posicionamento, fazer com que o consumidor saiba que por trás das informações há determinada ideologia.

       Este é o problema da Fox News e da forma como ela atuou de modo partidário durante o governo de George W. Bush. Graças a ela, a população americana passou a ter uma falsa ideia a respeito do Iraque. A ideia que era conveniente aos políticos republicanos, principalmente àqueles que lucrariam com um ataque às terras iraquianas.

Apesar de seu histórico, a Fox News nunca admitiu seu posicionamento conservador, o que faz dela um péssimo exemplo para o jornalismo. Sua posição política é tão escancarada que a torna motivo de piadas (como essa aqui) e objeto de estudo para pesquisas jornalísticas (essa, por exemplo).

Atualmente, devemos estar muito atentos para a mídia partidária que finge ser neutra. Não apenas os veículos de imprensa tradicionais como os jornais e revista, mas principalmente a internet tem feito com que muitos se enganem. Em tempos em que a mídia e a política vivem uma relação de amor e ódio, sem racionalidade envolvida, o filme Vice aparece para nos abrir os olhos.

          Veja o trailer e assista a esse filme mais do que necessário: