Lançado
em 1961, Bonequinha de Luxo é um
filme clássico dirigido por Blake Edwards e baseado no livro homônimo de Truman
Capote. Apesar de ser uma obra da década de 1960, o filme ainda faz grande sucesso,
sendo que sua popularidade deve muito à protagonista Holly Golightly, interpretada
por Audrey Hepburn.
Assisti
ao filme motivada pela imagem da personagem, que sempre vi representada em
muitos lugares e posso dizer que não me decepcionei com ela. Holly rapidamente
entrou para minha lista de personagens mais carismáticas já vistas em produções
cinematográficas. Portanto, se você ainda não viu o filme, digo que vale a
pena, principalmente por causa dela.
Entretanto,
nem tudo me agradou nessa produção, e nessa análise vou explicar o que encaro
como o tema principal do filme: a liberdade feminina. Para contextualizar
aos que ainda não o viram, a obra conta a história de Holly Golightly,
uma prostituta de luxo que sonha em se casar com um milionário.
Holly
costuma tomar seu café da manhã em frente à famosa joalheria Tiffany, a qual
considera como o melhor lugar do mundo. De início, ela nos parece apenas uma
mulher fútil e deslumbrada pela riqueza, mas com o avançar do filme podemos perceber
o quanto ela é determinada, independente e muito prática, mesmo que ainda demonstre
uma personalidade ingênua.
Aos
poucos, o filme nos conta os sofrimentos pelos quais Holly passou na infância e
as atitudes que tomou com a intenção de superá-los e tudo isso só fez com que
eu sentisse mais pena e afeição pela personagem. Como telespectador, grande
parte dessas descobertas que fazemos sobre a vida de Holly são por meio de Paul
Varjak, um escritor que se torna seu vizinho de apartamento.
Holly e Paul começam uma amizade e vemos essa aproximação entre os dois aumentar depois que ela descobre que Paul recebe dinheiro sendo amante de
uma mulher casada. De qualquer modo, mesmo que os dois tenham formas parecidas
de ganhar dinheiro, o relacionamento deles se mostra alheio à isso, se firmando
em uma amizade que envolve conselhos e preocupações sinceras.
Não
sou exatamente fã de filmes românticos, mas me vi torcendo por esse casal, que
parecia ter uma boa química e um relacionamento bem construído. Eram o tipo de
casal que, mesmo sem dizer, deixa o telespectador perceber que estão
apaixonados um pelo outro. Entretanto, Paul não era o homem milionário dos
sonhos de Holly e é a partir disso que começam as complicações do filme.
Neste
momento, irei tratar mais diretamente sobre as questões da liberdade feminina mostradas
na produção e para isso será necessário mencionar SPOILERS, portanto se
você ainda não viu o filme e se incomoda com isso, aconselho a finalizar a
leitura do texto por aqui. A seguir, a
análise irá apresentar vários SPOILERS dessa obra.
Ao
observamos um filme clássico, um fator de grande importância é o contexto no
qual ele foi produzido; nesse caso, o contexto da década de 1960. Pesquisadores
afirmam que o papel da mulher na sociedade começou a mudar entre as décadas de
1940 e 1960 em decorrência da Segunda Guerra Mundial, que levou mulheres à
trabalharem nas indústrias de armamentos, algo que ajudou na independência
financeira feminina.
Além
disso, 1960 foi o ano do surgimento da pílula anticoncepcional nos Estados
Unidos, o que possibilitou às mulheres poder de escolha para administrar a
própria vida sexual. A partir desse breve panorama, podemos perceber que Bonequinha de Luxo, ao trazer uma
protagonista tão independente, estava perfeitamente alinhado às revoluções da
época.
Porém,
por mais que tenha sido um filme importante na década de 1960, podemos dizer
que esse filme traz um discurso que deve ser mantido atualmente? Minha resposta
é não, pois atualmente podemos ver que toda a liberdade e independência
demonstradas por Holly são ofuscadas pelas atitudes de Paul ao final do filme.
Como mencionei, cheguei a torcer pelo casal em certo momento, mas o final me
fez detestar Paul completamente.
Ao perceber que estava apaixonado por Holly, ele resolve se
declarar a ela. Entretanto, ela ainda não está
pronta para aceitar seus sentimentos, então recusa o relacionamento. O que acontece a seguir são diversas
atitudes desesperadas do personagem para tentar convencer Holly de que ela deve
ficar com ele. A personalidade da protagonista, definida pela própria como
“livre e selvagem”, já fazia com que esperássemos uma recusa inicial e possivelmente uma mudança de opinião no futuro.
Porém,
o verdadeiro incômodo é o momento em que Holly, após perder sua chance de se
casar com um homem milionário, precisa lidar com as insistências de Paul dentro de um táxi. Muito
irritada, Holly quer mostrar a ele que não pertence a ninguém, assim como nada
também lhe pertencia, e para isso a protagonista abandona seu gato de estimação
na rua. É nesse instante que Paul faz o discurso mais decepcionante de todos:
Sabe qual é o seu problema, Senhorita-Quem-Quer-Que-Seja? Você é medrosa. Não é corajosa. Tem medo de encarar a realidade e dizer: a vida é assim. As pessoas se apaixonam. As pessoas pertencem umas às outras. É a única chance que têm de serem felizes. Você acha que é uma criatura livre e selvagem e morre de medo de que alguém a ponha em uma jaula. Bom, querida, você já está na jaula! Você mesma a construiu.
Na minha perspectiva, o personagem poderia ter usado diversos argumentos para
tentar convencer Holly de que ela seria feliz com ele, mas ele a convence
justamente negando sua liberdade. Ele impõe a ela que o único modo de ser feliz
é estando com ele e, mais do que isso, “pertencendo” a ele. É tão decepcionante
ver Holly aceitando algo assim que, quando desce do táxi, cheguei a pensar que
ela apenas iria atrás do gato abandonado, mas no fim ela acaba indo em busca
dele e de Paul.
Conclusão:
todo o conceito de mulher independente que o filme buscava transmitir morre no
instante em que Paul define quais são os limites da liberdade de Holly e quais
são as atitudes que ela precisa tomar. Por esse motivo, por mais que eu tenha amado
a protagonista, não posso dizer que gostei do final do filme, assim como espero
que muitas pessoas também não se sintam representadas por esse relacionamento.
Após
conversar com a Mirian Furtado, minha colega de blog, descobri que outras críticas
já haviam sido feitas ao Paul como personagem e, ao pesquisar um pouco sobre o
assunto, soube que ele foi bastante alterado em relação ao livro de onde
surgiu. Sendo assim, acredito que seja útil ler o livro de Truman Capote para
conferir essas mudanças.
Eu nunca assisti o filme, e confesso que nunca procurei saber sobre o que se tratava, por mais que seja tão conhecido e tal. Agora vendo suas considerações eu acho que teria o mesmo ranço de Paul. E dela também por aceitar algo do tipo sendo tão independente. Que pena que esse final arruína tudo de bom que teve até então.
ResponderExcluirbeijos
Olá, tudo bem? Pulei grande parte da resenha para evitar spoilers, porque apesar de ser muito famoso, ainda nao assisti o filme, mas sua análise me parece bastante completa. Espero assistir assim que possivel e voltar aqui fazer minhas consideraçoes.
ResponderExcluirOlá, tudo bom?
ResponderExcluirEu assisti esse filme há muito tempo atrás e lembro de ter ficado muito,mas muito brava com esse discurso final e em como Holly aceitou aquilo. Tentei dar um desconto devido a época em que foi feito, mas mesmo assim não deu. Eu gosto muito do filme, mas pra mim ele acaba quando ela desce do carro - sim, eu ignoro todo o resto! rs
Adorei sua análise e concordo com todos os pontos levantados ♥
Beijos!
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu já assisti esse filme tem algum tempo e gosto muito. Sem sombra de dúvidas o filme traz uma crítica sobre a liberdade feminina e gostei muito da sua análise sobre a película, temos que leva em conta que o cenário da época era totalmente diferente para as mulheres. Adorei a sua publicação!
Abraço!
Oi! Eu não assisti esse filme, embora é claro, já tenha visto muito sobre ele e sobre a protagonista, tanto a atriz quanto a personagem. Não sabia que tinha esse tema. Embora eu concorde com a sensação de ter estragado o final essa fala do personagem, eu ainda acho que sói vendo o filme pra declarar mesmo minha opinião sobre o filme num todo. Mas adorei a análise!
ResponderExcluirBjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥
Um dia desses fiquei encantada com o início do filme: Cinderela em Paris com Audrey Hepburn e assisti deslumbrada. Bonequinha de Luxo está na minha lista, confesso que não conhecia o enredo e muito menos sobre a existência de um livro... Poxa, vou correr no Skoob para coloca-lo na minha lista. Beijos
ResponderExcluirNara Dias
Viagens de Papel
Ola
ResponderExcluirAssisti esse filme há muito tempo atras e me lembro de ter gostado muito. Achei a sua crítica bem pertinente, porém, como vc disse, tem que lembrar que o filme é de outra epoca e na epoca em que ele ocorreu, o discurso final era extremamente realista, o que tenos que fazer agora é agradecer que isso tenha mudado e muito
Beijos
Eu não assisti o filme, mas ansiosa pela critica em si, mergulhei nos spoilers e acho que todos os que você citou, só me deixou com vontade de ver o filme. Sem dúvida o protagonista masculino argumentar a favor da felicidade senso associada a um relacionamento é decepcionante, mesmo para a época. Décadas depois, ainda vemos pessoas acreditando nisso. Adorei suas perspectiva.
ResponderExcluirbeijos
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu me lembro de ter assistido a esse filme faz muitos anos já, porém dele mesmo eu quase não lembro de nada. Só sei que na época que eu vi eu não curti muito, não. Enfim, achei bem interessante ver a sua análise sobre o filme.
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirEu considero esse um dos meus filmes favoritos da vida e, apesar de reconhecer que ele tem alguns problemas sim (principalmente no que se refere ao personagem do Paul), confesso que discordo de você em relação ao discurso. Talvez a escolha de palavras poderia ter sido melhor, mas concordo com o que foi dito. Há uma diferença grande em ter liberdade para escolher ficar sozinha e ficar sozinha por não conseguir lidar com sentimentos e ter medo de se apaixonar. Para mim, ficou claro desde o começo do filme que Holly tinha uma enorme dificuldade para lidar com seus sentimentos e era esse o motivo que a levava a fugir do Paul. Não entendo o discurso do Paul como tentando atrelar a felicidade a um relacionamento, mas como ele dizendo que ela não conseguiria ser feliz enquanto não aceitasse o que sentia.
De toda forma, achei interessante ler o seu texto e, mesmo sem concordar, entendo sua interpretação do filme.
Beijos!
Oiee ^^
ResponderExcluirEu sempre vejo imagens da personagem, mas nunca vi o filme, e para ser sincera, não sinto muita curiosidade de ver. Sei que o filme se alinhou com as mudanças da época e, acredito eu, naqueles tempos era considerado uma obra feminista, mas eu também sei que as coisas mudaram muito, de maneira que eu não vou gostar dos discursos presentes, como esse apresentado na resenha :/
MilkMilks ♥
http://shakedepalavras.blogspot.com.br
Olá Jéssica!!!
ResponderExcluirTive que parar a leitura antes da sua análise para não pegar spoiler da mesma.
"Bonequinha de Luxo" é um dos filmes que mais ouvimos falar e que até hoje não assisti, apesar de seu enredo parecer um clichê total pelo menos pelo que você disse no início de sua crítica.
Vou colocar o filme para ver e aí volto para seu post para ver se concordo com o que você diz sobre o mesmo.
lereliterario.blogspot.com